quarta-feira, 1 de junho de 2011

Seres que se Decepcionam

Decepção. A palavra soa bonito, é muito sonora, rima com coração, que é mais bonita ainda, rima com ilusão também. Com inquietação. Decepção é algo que a gente não gosta, mas espera. Decepção dói e tem seu lugarzinho devidamente registrado na agenda. É coisa que não se esquece. E nem se pode esquecer. Decepção faz da gente algo tão pequenino, tão propenso à tristeza e à fragilidade. E isso fica visível. A gente até tenta disfarçar a amargura de uma decepção, mas ela é humanamente aparente.
Decepção é antídoto para a fortaleza. Compre uma decepção e se torne mais imune às desventuras de uma relação. É por que decepção só acontece com mais partes. Amor você cultiva sozinho, tristeza você sente até mesmo à toa, sonhos você os tem exclusivamente. Mas você nunca se decepciona sem motivos, sem ter alguém para despejar a culpa, sem haver um nome – ou mais de um – a grafar no caderninho para sempre ser lembrado.
Alguns tipos são facilmente detectáveis. Decepção eletrônica, quando o infeliz do celular não toca. Decepção gastronômica, quando não há o prato preferido no domingo. Decepção em massa, quando o time perde jogando em casa. Decepção virtual, a janelinha do Messenger insiste em não subir no desktop. Decepção auditiva, a tão esperada canção não fez fechar os olhos e sonhar. Decepção planejada, a bomba no semestre da faculdade por puro e simples descaso. Decepção ilusionista, nunca aconteceu, mas doeu. Decepção do amém, acho que poderia ter sido diferente.
Decepção não manda recado, não avisa quando chega, visto que se avisasse, não teria motivos para existir. Decepção é uma boa professora, mostra pra gente como não deveríamos ter agido, ou o tanto que não deveríamos ter esperado. Decepção não exige antônimos e nem necessita de sinônimos. Decepção se basta, é cruelmente sincera. Impiedosamente autônoma.
Dói, e dói muito quando ela surge vinda de alguém especial. Às vezes, atravessada de maus entendidos, conversas que não houveram, desabafos que ficaram presos na garganta. Compreendê-la talvez seja difícil. Aceitá-la então, missão impossível. Mas quanto mais se decepciona, menos se abala. Cria-se o calo, o escudo antidecepção, uma armadura poderosa, porém permeável. A decepção, um dia, vai voltar a aparecer, para mostrar e tirar a prova real, de que somos seres que sentem, e nada mais além disso.

Vinícius Dill Soares
Maio de 2011


2 comentários:

  1. Muito bom Vine. =D
    Parabéns

    Dani

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  2. "Decepção virtual, a janelinha do Messenger insiste em não subir no desktop".

    Afinal alguém diagnosticou e nomeou esse mal que tanto aflige os navegantes da web! =)

    muito bom texto!

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