Primeira semana
Eu até tentei falar uma bobagem à toa, qualquer coisa que pudesse te fazer rir, como sempre acontecia entre a gente. E por mais que tenha sido engraçada a minha piada, aquele riso gostoso e frouxo não saiu. Ao contrário. Não escuto absolutamente nada e é esse inaudível barulho do silêncio que me irrita. E me entristece, profundamente. E as minhas mãos estão tão frias, tão geladas, assim como havia sido o nosso encontro de semana passada, aquele que, no fundo, sabia – seria inesquecível. Estou sim, ao teu lado, mas não mais posso te tocar, sentir o suave aroma do teu perfume, o teu toque que eriça meus pelos e despenteia meus cabelos. Então pra quê essa proximidade, meu Deus? Nem sei mais o que faço aqui, a minha visita serve apenas como uma forma de tortura. Autossofrimento. Desde a última semana, os dias passam como se fossem anos e é por causa dessa maluquice que eu também envelheço. É um desgaste físico e sentimental, que não levam apenas o frescor da minha juventude, mas também a minha imensa vontade de viver. Não dá mais pra ficar vivendo só de lembranças e incertezas, afinal, a única certeza que tenho é a de que um dia o sol descobre-se das nuvens. Lembro do vento cortante que cruzou meu caminho quando nos despedimos. É o mesmo vento que agora nos vela. Vela nossa história, sem presente e sem futuro. Vela, mais uma vez, a despedida. Tchau, semana que vem eu volto.