domingo, 10 de julho de 2011

O Aquecedor

Comprara seu amor em dez vezes sem juros. Permanecera cansado por longas semanas. Esteve prestes a decretar desistência nisso que chamam de reciprocidade, sentimento mútuo, amor correspondido. O inverno havia chegado e mostrado todo o seu potencial congelante-destruidor. As manhãs eram frias e as noites alongadas. E a solidão o definhava, lenta e gradativamente. Juntou uma propaganda de loja da rua e mudou os planos do dia.
Quando o tímido sol já se punha no horizonte, voltou para casa com seu amor nos braços. A felicidade pela companhia era tamanha que teve dificuldades para pegar no sono. Pensara várias vezes que não estava mais só e que pelo menos agora sua paixão jamais prometeria, em vão, ligar no dia seguinte. Não quis desconectá-lo da tomada. Seu barulhinho e seu calor aqueciam sua pele e sua alma. Descobrira intuitivamente que seu pavor pelo vozerio sempre foi uma rejeição intrínseca à solidão. Tão intrínseco que jamais ousara admitir verbalmente. E nos devaneios das revelações, adormeceu.
O aquecedor superaqueceu, pegou fogo, queimou a casa por inteiro e ele morreu carbonizado. Morreu nas mãos de seu amor. Mas pelo menos não havia morrido só.

(Vinícius Dill Soares)
Julho de 2011


2 comentários:

  1. Rss... se se morre de amor? ah, se morre sim! Adorei o texto! Acho que a solidão é o mal do nosso século mesmo. Mas deixa eu ir. Preciso comprar um aquecedor. kkkkk
    Beijos da Marie

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  2. Tu é simplesmente MARAVILHOSO! ganhou uma fã!

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